Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Fátima

Diante das grandes crises, a humanidade pode se tornar melhor ou simplesmente não aprender nada e continuar seguindo em frente, sem acertar o rumo. A História mostra que países submetidos a grandes sofrimentos, como o Japão e a Alemanha durante a Segunda Grande Guerra, saíram melhores do que eram, mais humanos e mais desenvolvidos, porque aprenderam com seus próprios sofrimentos.

Estamos passando por uma das grandes crises da humanidade com a Covid-19. Difícil ainda saber como estaremos quando tudo terminar, embora muitos já se arrisquem a fazer prognósticos para o futuro. Quero aqui abordar um pouco do que podemos fazer enquanto estamos vivenciando a mesma.

Uma atitude possível é fingir que nada de sério está acontecendo e ir tocando a vida, fazendo de conta que não vai nos atingir. É uma atitude possível, mas bastante arriscada, pois, para quem não se prepara para a guerra, quando ela chega, a derrota se torna inevitável. E há derrotas que são amargas demais….

Outra atitude é se preparar, trabalhando em diversas frentes. Uma delas é fortalecer-se espiritualmente para enfrentar o sofrimento e saber interpretá-lo, ainda que seja sempre muito difícil. Quem tem uma espiritualidade forte consegue harmonizar o sofrimento em sua vida, sem deixar que o desespero tome conta de sua alma. Não deixa de sofrer, mas está mais preparado para os seus impactos e consegue crescer como ser humano, saindo mais forte.

Outra frente é a das atitudes práticas. Seguir as recomendações sanitárias é sem dúvida uma delas. Não se pode, diante de uma doença como esta, com grau bastante elevado de contágio e de mortalidade, ter atitudes infantis, afirmando que não chegará até nós e que há exageros na recomendação dos cuidados e, simplesmente, ignorá-los. Pelo contrário, tomar certas precauções, como o uso de máscaras, evitar proximidade e aglomerações, são atitudes corretas, consciente.

Há também aquelas atitudes no campo social. Ser solidário com os que estão sofrendo mais, não ficando indiferente à dor alheia, como se nada tivéssemos que ver com isso. Tal atitude terá grande importância, em especial quando a pandemia amenizar e a pobreza aumentar ainda mais, como tem nos alertado vários especialistas.

Finalizo frisando que será de suma importância a humanidade fazer uma avaliação profunda do seu modo de vida atual, frente a todo este acontecimento que nos atingiu, pois, se sairmos do mesmo modo, desperdiçaremos a chance de corrigir erros graves.

O Brasil precisa avaliar a distribuição da sua renda, pois com esta crise ficou ainda mais claro ser algo inaceitável admitir que milhões de pessoas continuem vivendo em condições miseráveis. É desumano para os que vivem assim e adoece o país inteiro, de diversas maneiras.  É preciso redistribuir a renda, pois ninguém tem o direito de acumular fortunas incalculáveis, enquanto outros passam necessidade de tudo. É preciso, também, investir mais em educação de qualidade, a fim de que as chances sejam iguais para todos. É preciso querer e lutar, de verdade, por um Brasil bom e justo para todos.

Que Deus nos dê sabedoria para que tudo o que estamos vivendo não entre para a História apenas como um tempo perdido entre dores e aflições.

Texto: Dom Walter Jorge, Bispo Diocesano
Publicação Jornal Estrela Matutina – Edição Maio/2020.
Postagem: Setor de Comunicação