Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Fátima

Jesus frequentou o Templo e as sinagogas. Mas sua prioridade era estar no meio do povo. Para ele, o lugar privilegiado do encontro com o Pai era o ser humano. Com palavras e atitudes, ensinou a beleza de contemplar Deus na criação e na pessoa. Ou seja, fazer do outro, da natureza, dos acontecimentos um templo, lugar da experiência de Deus.

Mais ainda, garantiu que o encontraremos no próximo. “O que fizer a um desses meus irmãos, é a mim que estará fazendo”. Quando a religião estava muito ocupada com a lei e com o templo, Ele nos convida a olhar com mais atenção para a pessoa. Uma cena bonita acontece logo no início da sua missão. Ele está na sinagoga e aparece um homem com deficiência física (cf Lc 6,6ss). Era sábado. A lei proibia qualquer atividade, inclusive a cura. Todos ficam de olho pra ver se Ele vai respeitar a lei. Jesus os olha com indignação e diz ao homem: “Levanta-te e fica aqui no meio!”. Com isso, praticamente obriga os presentes a olharem para o homem, que ficou no centro. E pergunta: “Em dia de sábado, o que é permitido, fazer o bem ou o mal?” Para Ele, o foco é a pessoa. A lei é fazer o bem.

Atualmente, há uma grande tendência de supervalorizar animais e objetos e desvalorizar o ser humano. Parece mais grave ferir um animal que ferir alguém. É mais importante tocar na imagem de gesso que tocar na pessoa, imagem viva de Deus. Dá-se mais valor ao templo e ao sacrário que ao coração de um(a) irmão(ã). Mas está claro que a proposta de Jesus vai em outra direção.

Também nas “Bodas de Caná” se percebe isso (cf Jo 2,1-12). João apresenta a cena como primeiro ‘sinal’ realizado por Jesus; porta de entrada para toda a sua pregação. Tudo acontece numa festa de casamento, lugar da alegria, do encontro, da aliança, do amor. Ali estão seis talhas que serviam para as purificações dos judeus. Representam uma religião ritualista, legalista, preconceituosa, que, em vez de libertar, era um peso para o povo simples. Um detalhe: João afirma que as talhas estavam vazias. Era uma religião esvaziada de sentido, escrava da lei e da tradição. Já não servia, não cumpria mais a sua missão.

Jesus as preenche com o vinho novo da alegria, da abundância, do prazer de viver, da festa. Para muitos isso é um escândalo. Como o Filho de Deus pode encher a casa de vinho? De fato, aprendemos a temer um Deus sempre sério, que não ri, que não brinca, não canta, não dança, mas vigia e castiga. Ensinaram-nos que todo prazer é pecado. Que não merecemos ser felizes. Incutiram fundo em nós o sentimento de culpa. “Minha máxima culpa!” Tudo em nome de Deus.

Mas o Deus de Jesus está muito presente no prazer da festa, na alegria do amor, no coração da pessoa. Herdamos uma religião que prega em primeiro lugar a moral, o sacrifício, a renúncia, a mortificação, a privação de tudo, a negação do prazer. Jesus viveu o pleno despojamento, a simplicidade, a liberdade diante das coisas, mas falou de um Deus da abundância, um Deus cujo maior desejo é ver seu povo feliz. O casamento em Caná, quando o Cristo entra em cena e mostra a ‘hora’ de Deus, é sinal da vida “partilhada e festiva” que Deus quer para o seu povo, como diz Pe. Adroaldo.

Jesus, lembra o jesuíta, ensina a amar com um amor que se alegra com a felicidade do outro, com sua realização, sua alegria, sua liberdade, sem pretender jamais dominá-lo, nem fazê-lo à nossa imagem e semelhança, sem pedir algo em troca. Ele “não fundou nenhum templo, nem levantou altares, nem organizou uma classe sacerdotal, nem impôs jejuns e privações ascéticas, nem dispôs cerimônias rituais ou purificações sagradas. De nada disso falam os Evangelhos.”

E o Evangelho de João reforça cada vez mais esse jeito de Jesus. Pouco à frente, diante da mulher samaritana, discriminada e considerada como grande pecadora, Jesus vai ensinar que não é preciso ir ao templo para adorar, porque os verdadeiros adoradores “adorarão o Pai em espírito e verdade. São esses que o Pai procura” (Jo 4,19-25). O Deus de Jesus está no templo de sempre: no ser humano. A “encarnação” é o “mistério” da humanização de Deus e da divinização do ser humano. “Somente podemos crer no Deus de Jesus na medida em que sejamos profundamente humanos”.

A liturgia católica reforça exageradamente o aspecto do sacrifício, que em nossa linguagem está associado a algo pesado, doloroso. É preciso resgatar mais a linguagem poética e divina da celebração, da ternura, da beleza, do carinho, da festa, da alegria. Afinal, Deus é Amor! E amor não é algo pesado, mas a leveza que dá prazer e liberta. Que faz feliz…

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