Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Fátima

“Numa roda de amigos, alguém mostrou uma fotografia em que se via um homem de rosto severo, com o dedo levantado, quase agredindo o público. Todos tiveram a impressão de que se tratava de uma pessoa antipática, inflexível, que não permitia intimidade. Parecia mesmo um homem mau.

Imagem de wirestock no Freepik

Nesse momento, chegou um rapaz, viu a fotografia e exclamou: ‘É meu pai!’ Os outros olharam para ele e, apontando a fotografia, comentaram: ‘Pai severo, hein?!’ Mas ele respondeu: ‘Não! Não é não! Ele é muito carinhoso. Meu pai é advogado. Esta fotografia foi tirada no tribunal, quando ele denunciava o crime de um homem poderoso, um latifundiário que queria despejar uma família pobre de um terreno baldio da prefeitura, onde ela estava morando havia vários anos. Meu pai ganhou a causa, e os pobres não foram despejados!’

Todos olharam de novo e disseram: ‘Que fotografia bonita! Que homem simpático!’

Como por um milagre, a foto se iluminou e tomou um outro aspecto. Aquele rosto tão severo adquiriu traços de uma grande ternura! As palavras do filho mudaram tudo, sem mudar nada!”

O Frei Carlos Mesters conta essa história para falar da Bíblia. Ela nos mostra a fotografia de Deus e da vida do povo de Deus. Se a gente não conhece o contexto, o tempo em que foi escrita, quem escreveu e para quem foi escrita, podemos ter uma visão distorcida de Deus e da religião. É por isso que nós a lemos procurando ver além das palavras e além dos fatos.

Vivendo o contexto do Sínodo dos bispos sobre a família, a Igreja e, de um modo muito especial, o papa Francisco, querem justamente assumir um olhar diferente. Nos depoimentos, no levantamento da realidade mundial, nos pronunciamentos do Pastor e de outros, sempre se destacam palavras que são essenciais: acolhimento, respeito, misericórdia, esperança, solidariedade. Sem esquecer a fidelidade, o compromisso, a sacralidade.

Esse novo olhar é fundamental para os tempos de hoje, tão mudados. Os contextos mudam. A maneira de ver e julgar precisa também mudar. Nas bodas de Caná Jesus usa justamente do casamento pra falar da sua nova proposta. O que está vazio de sentido, o que já não é motivo de alegria, onde a lei substitui o amor e a misericórdia, a transformação é necessária e urgente.

Jesus é quem melhor nos revela o verdadeiro rosto do Pai. Duro com os injustos e exploradores; cheio de ternura com os pobres e sofredores. Quando os antigos viam em Deus um Juiz severo, capaz de castigar gerações, e o viam apenas como o “Senhor Deus dos exércitos”, Jesus vem nos dizer que Deus caminha conosco, é papai, alguém que sabe dar o que há de melhor para os seus filhos e filhas. Um Deus justo e misericordioso, que nos ama com ternura de mãe, nos educa e dá a vida por nós. Sua vontade é que todos tenham vida e que ninguém se perca. Ele é capaz de entregar tudo para nos salvar do mal. “Deus amou tanto o mundo que entregou seu Filho…”.

Sem mudar nada, Ele muda tudo; nos ajuda a olhar a Bíblia, Deus e os irmãos com outros olhos. “Não vim abolir a Lei, mas dar-lhe pleno cumprimento”. Mostra como a lei está a serviço da pessoa e da vida, quando os mestres da lei a usavam contra os pequenos e pobres. Ensina-nos a olhar a Bíblia como caminho de vida e história de salvação. Ajuda-nos a ver nela o mapa que nos conduz pelos caminhos da justiça e da fraternidade, muito mais do que da condenação.

À luz da Palavra e da vida de Jesus, encontramos na Sagrada Escritura o rosto materno de Deus; a fotografia do Pai que corrige e orienta, defende os órfãos e as viúvas, condena com severidade a injustiça, mas ama e perdoa a bons e maus.

É aí que, certamente, o Sínodo dos Bispos irá buscar sua inspiração. É a partir do jeito de Jesus que a Igreja, movida pelo Espírito que renova todas as coisas, conseguirá ser uma verdadeira mãe para todos, inclusive e sobretudo para aquelas famílias que enfrentam tantos desafios, tanto sofrimento e que, mais do que dedos apontados, carece de mãos estendidas e corações abertos.

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