Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Fátima

O papa Francisco, na Evangelii Gaudium, enumera seis tentações a que os agentes de pastoral (ministros ordenados e leigos) estão sujeitos. Vale a pena recordá-las neste tempo quaresmal que nos convida à conversão.

A primeira delas é o esvaziamento de uma espiritualidade missionária. Quem nela cai deixa-se levar pelo individualismo, passa por crise de identidade e pelo declínio do fervor. De acordo com o papa, esses três males alimentam-se entre si. Diante de sua missão, o agente de pastoral é tomado pelo complexo de inferioridade que o leva a “relativizar ou esconder a sua identidade cristã”. Com isso, não se dedica à evangelização ou o faz com tempo muito limitado. Manter o entusiasmo missionário é o desafio (cf. EG 80).

A segunda tentação é o desânimo egoísta. Esse problema, de acordo com o papa, não está no excesso de trabalho, mas “nas atividades mal vividas, sem as motivações adequadas, sem uma espiritualidade que impregne a ação e a torne desejável” (EG 82). O que leva o agente de pastoral a desanimar? Francisco responde: desejar projetos irrealizáveis; ignorar processos e querer que tudo caia do céu; apegar-se a sonhos de sucesso alimentados pela vaidade; afastar-se do povo, tornando a pastoral despersonalizada; não aceitar o ritmo da vida. Essa tentação leva à “psicologia do túmulo” que transforma os cristãos em “múmias de museu” (EG 83). Ela vem para roubar a alegria de evangelizar.

O pessimismo estéril, terceira tentação, leva a uma sensação de derrota “que nos transforma em pessimistas lamurientos e desencantados com cara de vinagre” (EG 85). É desanimador ter no grupo um derrotista de plantão. E há agente de pastoral assim. Não acredita na vitória. “Quem começa sem confiança, perdeu de antemão metade da batalha e enterra seus talentos” (EG 85). Vencer essa tentação é manter viva a esperança.

A quarta tentação é dizer não às novas relações geradas por Cristo e fazer a opção de uma vida fechada em si mesma, negando a necessidade da vida em comunidade. O Evangelho tem uma dimensão social que nos convida a “abraçar o risco do encontro com o rosto do outro, com sua presença física que interpela, com os seus sofrimentos e suas reivindicações” (EG 88). Não é possível ser cristão fora da comunidade.

O mundanismo espiritual, quinta tentação, esconde-se nas “aparências de religiosidade e até mesmo de amor à Igreja” (EG 93). Consiste na busca da glória humana e do bem-estar social. Essa tentação aparece no cuidado “exibicionista da liturgia, da doutrina e do prestígio da Igreja”, em detrimento da encarnação do Evangelho (EG 95). Nesse caso, “a vida da Igreja transforma-se numa peça de museu”. A vanglória é sua meta. Essa tentação nos rouba o Evangelho.

A última tentação é a disputa por poder, prestígio e segurança econômica que leva a uma “guerra entre os cristãos”. O testemunho da comunidade cristã deve ser de amor e de perdão. “Por isso me dói muito comprovar como em algumas comunidades cristãs se dá espaço a várias formas de ódio, calúnia, difamação, vingança, ciúme… e até perseguições que parecem uma implacável caça às bruxas” (EG 100).

Nesta Quaresma nossa conversão se traduza na vitória sobre essas e tantas outras tentações que nos roubam a identidade de cristãos.

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