Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Fátima

A comunidade internacional tem assistido, com séria preocupação, à onda de violência e intolerância do chamado “Estado islâmico”. E não é para menos. Trata-se de um radicalismo perigoso.

Mas não é somente o Estado Islâmico que preocupa. Apesar de novas leis, novos mecanismos de comunicação e diálogo, mesmo com uma forte conscientização sobre a riqueza do pluralismo, há também uma crescente onda de intolerância entre nós. E, em menor escala, todos carregamos uma tendência ao radicalismo. É que acreditamos em nossas verdades, lutamos para defendê-las e – aí a coisa começa a se complicar, nem sempre aceitamos que o outro pode pensar diferente e ter também as suas verdades.

Na última campanha eleitoral isso ficou muito evidente, sobretudo nas redes sociais. Ofensas e insultos substituíram o diálogo. A pessoa era tachada de ‘idiota’, de ‘ignorante’, de burra, simplesmente por expressar sua opção por um candidato.

No futebol, a situação está ficando praticamente insustentável. Quase toda partida entre grandes times começa, acontece e termina em meio à violência. Muitas famílias já não têm coragem de ir aos estádios.

Dias atrás a torcida do Palmeiras quebrou mais de oitocentas cadeiras do Itaquerão. No Pernambuco torcedores quebraram vasos sanitários e os atiraram no meio da multidão, matando um torcedor. Quase toda semana o noticiário registra atentados, mortes, briga entre grupos e até chacinas. Tudo em nome do futebol, que nasceu para ser esporte, lazer, entretenimento, confraternização.

Mas nem as religiões escapam da intolerância. São incontáveis os gestos e atitudes de violência em nome de Deus ou em nome da fé. Nem entre cristãos se consegue uma convivência respeitosa e fraterna. Em alguns grupos o radicalismo é cruel. Atentados contra a vida e a liberdade, preconceito, exclusão, tudo pode acontecer na defesa da fé e de certos princípios. Pior é quando usam o livro sagrado para justificar o inconcebível. “Não é Deus que exige sacrifícios ou atos violentos, mas a agressividade de certas pessoas que recorrem a esse Deus”, diz René Girard. E Sébastien Castellion, em 1553, já dizia: “Matar uma pessoa para defender uma doutrina não significa defender uma doutrina, mas matar uma pessoa”.

Enquanto assistimos impotentes aos ataques de grupos terroristas, sem saber o que fazer, talvez pudéssemos, pelo menos, repensar nossas próprias atitudes. Renold Blank, em seu livro Deus e sua criação, da Ed. Paulus, traz uma bela reflexão sobre isso. Lembra que o grupo que desejava apedrejar aquela pecadora do evangelho (Jo 8) o fazia com a consciência mais tranquila do mundo, porque estava cumprindo a vontade de Deus e realizando a lei. Na verdade, eram agressivos e hipócritas.

Isso também pode ocorrer conosco e vale para a fé, para a política, para o futebol, para a convivência na comunidade. Todo radicalismo se transforma em fanatismo. E pode causar sérios estragos em nós mesmos e em muita gente. Só no diálogo e no respeito ao diferente é possível conviver e conquistar a paz.

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