Mensagem da Comissão de Meio Ambiente da Província Eclesiástica de Mariana às vítimas do rompimento da barragem em Brumadinho

Mensagem da Comissão de Meio Ambiente da Província Eclesiástica de Mariana e do Fórum Permanente em Defesa da Bacia do Rio Doce às vítimas do rompimento da barragem de rejeitos de minérios em Brumadinho – MG

A Comissão de Meio Ambiente da Província Eclesiástica de Mariana e o Fórum Permanente em Defesa da Bacia do Rio Doce vem, por meio desta, manifestar sua solidariedade com as vítimas de mais um crime sócio ambiental ocorrido em nosso Estado e, ao mesmo tempo, exigir o cumprimento de justiça por parte da Mineradora Vale, bem como a eficiência e rapidez de atuação dos poderes executivo, judiciário, legislativo e dos Ministérios Públicos Estadual e Federal.

Que este 25 de janeiro de 2019 não caia no esquecimento e nem permaneça na impunidade como tem ocorrido com os crimes de Mariana, Nova Lima, Tombos, Muriaé, só para lembrar os mais recentes, cujas vítimas e o meio ambiente aguardam o cumprimento pleno da justiça e o restabelecimento de sua normalidade.

Este crime sócio ambiental da Mineradora Vale, no município de Brumadinho-MG, ceifando vidas e destruindo o meio ambiente, é apenas a sequência de mais uma tragédia previsível e anunciada, expressando a ganância das mineradoras como bem denunciava o Papa Francisco, dirigindo-se aos participantes de um encontro, em Roma, sobre as atividades mineradoras: “o setor da mineração é chamado a fazer uma mudança radical de paradigma para melhorar a situação em muitos países”.  Pediu ainda que os governos, empresários, pesquisadores e trabalhadores contribuam para esta transformação: “Todas essas pessoas são chamadas a adotar um comportamento inspirado no fato de que nós formamos uma única família humana, ‘que tudo está inter-relacionado, e que o genuíno cuidado de nossa própria vida e de nossa relação com a natureza é inseparável da fraternidade, da justiça e da fidelidade aos outros’”.

Minas Gerais e o Brasil precisam urgentemente fazer uma transição desse modelo econômico, dependente de commodities, para uma economia de base solidária, verdadeiramente sustentável, com uma política ambiental séria e verdadeiramente comprometida com a vida e não somente com o lucro. É nosso único caminho, pois o modelo econômico atual possui uma lógica infinita de produção e consumo, sem levar em consideração a vida das pessoas, suas comunidades, seus territórios, em um planeta com recursos finitos, a tudo devorando e destruindo.

Queremos ser um povo livre, com direito de viver neste mundo como sujeito e não como objeto. Todos nós temos o direito de viver livremente, com a responsabilidade de cuidar de nossa “Casa Comum”, com carinho, amor, respeito, promovendo a justiça, a verdade e a paz.

Evocando São Francisco de Assis, patrono da criação divina, diante de tanta dor, lágrimas e luto, ousamos dizer:

Onde houver desespero, que eu leve a esperança;

Onde houver tristeza, que eu leve a alegria;

Onde houver trevas, que eu leve a luz.

Que Nossa Senhora da Piedade, padroeira de nosso Estado, venha em nosso socorro nesta hora de tanta dor.

Mariana – MG, 27 de janeiro de 2019.