Considerar como destaque a periferia da pobreza no trabalho evangelizador é uma graça para toda a nossa Arquidiocese de Mariana na fidelidade ao Evangelho de Jesus Cristo.
A opção preferencial pelos pobres não é circunstancial, mas tem raiz cristológica, como enfatizou o Papa Bento XVI na abertura da Conferência Episcopal de Aparecida. Jesus deixou isso muito claro: Mt 5,3; Mt 25,31-46; Lc 4,16-19. Só para ficar com alguns dos textos mais fortes a propósito nos evangelhos, sem falar de outros do Novo e do Antigo Testamento. O Papa Francisco tem dito por diversas vezes que gostaria de uma “Igreja pobre para os pobres” (cf. EG 198).
Devemos fazer uma distinção quando falamos de pobreza na Igreja, como já fez o Documento de Medellín. Há a pobreza carência que ofende a dignidade do ser humano, chegando até a níveis extremos de miséria. Deve ser combatida e superada. Há a pobreza espiritual que é um valor fundamental para todos cristãos e que deve ser buscada e cultivada. Devemos colocar toda a nossa confiança em Deus, buscando em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e sermos desapegados, ordenando a vida e os bens de acordo com a vontade de Deus.
Há a pobreza compromisso, pobreza assumida em solidariedade com os necessitados e como testemunho profético de seguimento de Jesus Cristo, pobreza material. Todos os cristãos devem buscar uma vida simples, austera, livre do consumismo e solidária com os pobres, capaz de partilha de bens.
Diante de todas essas considerações, eleger a periferia pobreza é ocasião de conversão pessoal e comunitária para as nossas Regiões Pastorais e Arquidiocese. A maioria dos que frequentam as nossas comunidades paroquiais leva uma vida modesta e pobre.
Há pobres excluídos, afastados, esquecidos e abandonados. Como dissemos na 10ª assembleia paroquial de pastoral da Paróquia de Fátima em Viçosa, precisamos identificar os rostos, os tipos de pobreza; acompanhar os irmãos e irmãs necessitados.
Para isso, pode ser útil: promover rodas de conversa e formação sobre a Doutrina Social da Igreja; visitas missionárias; interação na base entre os CCPs e a SSVP; conhecimento dos agentes sociais da comunidade (Associações de Bairro, PSF, etc.); dialogar com as forças da sociedade civil organizada (movimentos populares e poderes constituídos). Podemos nos perguntar no nível pessoal: quantos amigos pobres temos?
Devemos nos interrogar comunitariamente: o nosso trabalho evangelizador atinge os pobres? A nossa Igreja é “casa dos pobres” como queria São João Paulo II (Novo Millennio Ineunte 50)? Sinal de autenticidade cristã é a evangelização dos pobres conforme o programa de Jesus Cristo em Lc 4,16-19. A Região Pastoral Mariana Leste em sua 15ª Assembleia de Pastoral apontou para a prioridade da iniciação à vida cristã. Devemos nos perguntar se os pobres são iniciados à vida cristã, se descobrem a alegria e a esperança que nasce do Evangelho.
Em sintonia com o PAE, devemos nos perguntar se as exigências da ação evangelizadora contemplam os mais pobres.
Em Mt 4,4, vemos que não só de pão vive o ser humano. Levar o Evangelho aos pobres com todas as suas consequências é imperativo da fidelidade a Jesus Cristo e o que de melhor se pode fazer em favor dos pobres. No primeiro encontro de padres, diáconos e leigos coordenadores paroquiais de pastoral da Região Pastoral Mariana Leste de 2018 refletimos exatamente sobre a opção preferencial pelos pobres à luz da Palavra de Deus, da caminhada da Igreja na América Latina e no Caribe e segundo o Magistério do Papa Francisco.
As Conferências Episcopais de Medellín, Puebla, Santo Domingo e Aparecida, bem como as Diretrizes da Ação Evangelizadora da CNBB, apontam reiteradamente com muita coerência para a evangélica opção preferencial pelos pobres.
Cônego Lauro Sérgio Versiani Barbosa
Vigário Episcopal na Região Pastoral Mariana Leste
Pároco da Paróquia de Nossa Senhora do Rosário e Fátima em Viçosa