Recentemente estivemos reunidos na diocese de Caratinga para nossa segunda Romaria das Águas e da Terra da Bacia do Rio Doce.
A Igreja é povo de Deus, e povo de Deus marcha com o pé na história de seu tempo. Foi assim na antiguidade relatada no antigo testamento, onde o povo eleito, saiu em peregrinação em direção a terra prometida e hoje somos nós o povo eleito e a terra prometida ainda está por construir.
Percebemos, e fortemente, os ataques que a natureza tem sofrido neste nosso momento da história, e o Papa Francisco na Encíclica Laudato Si, nos chama a atenção quanto a isto. Em comunhão com ele e com a Igreja universal também fazemos o nosso movimento. Há anos denunciamos e gritamos acerca dos problemas relativos à mineração, ao acesso a terra, ao problema dos atingidos por barragens, além de muitos outros ataques aos nossos direitos na Arquidiocese de Mariana, onde percebemos que “a riqueza vai e a pobreza fica e não sabemos como será o amanhã,” resultado de uma atividade econômica que não preza pela meio ambiente e nem pela vida.
A água, bem natural e essencial à vida humana tem aos poucos se transformado em mercadoria, a falta de acesso a terra, força a saída do homem do campo, não deixando perspectivas para seus jovens e familiares. O rompimento de uma única barragem mata um Rio inteiro, o movimento dos atingidos por barragem (MAB), denuncia que pagamos a conta de luz mais cara do Brasil.
A Bacia do Rio doce que congrega várias dioceses no seu território, chora junto com o povo que aí reside dos desmandos e dos crimes que a ferem. Necessitamos tomar consciência de qual papel social exercemos neste momento: Vamos apenas assistir a tudo passivamente? Vamos participar? Como fazê-lo? Tenho aprendido, por exemplo, que não nos basta somente economizar água, pois no universo do consumo da mesma, quem menos consome é o homem, as atividades da Indústria, da agricultura e de matar a sede dos animais, representa cerca de 90% do gasto, mas podemos pensar que todas estas atividades têm como fim o homem, é isto mesmo? O tempo passa e nós temos nos beneficiado disto? Ou uma pequena parcela da população mais abastada se beneficia? Será que para nós não fica apenas a culpa de que não sabemos usar adequadamente a água?
Sem dúvida nenhuma necessitamos fazer um uso racional, até pelo custo que hoje ela representa, mas mais que isto nos preocupar se no nosso modo de viver, estamos destruindo o meio ambiente e com ele a água. Que modelo de agricultura apoiamos? A agroecologia e a agricultura familiar ou o grande agronegócio? Quais produtos consumimos? Onde compramos? Sabemos se na sua produção há sustentabilidade? Ficam estas sugestões de reflexão para que, no chão da nossa história possamos pensar se somos somente mais um, ou se estamos fazendo diferença enquanto atores sociais que somos.
Bem, se percebemos, no confronto com as exigências evangélicas e enquanto povo de Deus, que as coisas não andam bem e que estamos lesando e sendo lesados, necessitamos nos mover, não podemos ficar calados, então saímos em romaria, como outrora, na luta pelos nossos direitos e queremos com nosso grito denunciar as realidades que estão acontecendo, no intuito e que as mudanças venham.
Marcos Nunes
Membro da Dimensão Sócio-Política
Paróquia de Fátima