O evangelista João, consegue trazer-nos grandes mensagens, numa linguagem bastante compreensível. O estilo é único entre os quatro Evangelhos e ele utiliza com frequência os contrastes: luz e trevas; fé e descrença; verdade e mentira; bem e mal; aceitação e rejeição; etc.
Além dessas, João também usa as palavras crer, mundo, testemunha, verdade e Filho de Deus, dando-lhes um sentido todo especial. Apesar da grandiosidade do livro, a forma como o evangelista organizou sua narrativa é bastante simples, estando ao alcance de todos a compreensão da mensagem, porque é Palavra de Deus e porque o material foi disposto de forma a levar o leitor em direção a uma confissão de uma fé ativa em Cristo.
Jesus faz diversas declarações sobre a sua pessoa, seu propósito e nos mostra claramente que Ele é o caminho para a vida eterna. Neste evangelho, Jesus declara que é o Filho de Deus, que foi enviado por Deus para cumprir na cruz do calvário o plano para a salvação do homem. Sobre a sua pessoa, Jesus fez sete declarações no Evangelho de João: “Eu sou o pão da vida” (6.20); “Eu sou a luz do mundo” (8.12); “Eu sou a porta das ovelhas” (10.7); “Eu sou o bom pastor” (10.11); “Eu sou a ressurreição e a vida” (11.25); “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (14.6); “Eu sou a videira verdadeira” (15.1).
O Evangelho de São João é diferente dos outros três (Marcos, Mateus e Lucas), chamados sinópticos (por apresentarem a vida de Cristo sob o mesmo ponto de vista geral). João dá ênfase especial à divindade de Cristo, narrando o que Ele disse de preferência ao que fez. Os outros se preocupavam em registrar; João, em interpretar. Esse propõe demonstrar que Jesus de Nazaré é Deus encarnado, mas também que todo aquele que receber a Cristo e crer no Seu nome se torna filho de Deus (Jo1:12; 2:11, 22; 3:15, 36; 4:39, 41,42). João quer que os leitores conscientemente respondam à pergunta: “Que pensais vós do Cristo? De quem é filho?”. Está interessado em realidades históricas; mas, especialmente, em interpretar a pessoa e obras do Filho de Deus. Através do Seu Evangelho, Jesus Cristo será visto e conhecido como a Luz, a Vida, o Amor de Deus: o Verbo feito carne para salvar o mundo.
Este evangelho não é apenas “história”. O seu impacto é mais espiritual que intelectual. Este é o “Evangelho espiritual”, como era chamado pelos fiéis da Igreja Primitiva. O impacto irresistível é o caráter duma pessoa. Sua intenção é apresentar o espírito e a alma de Jesus, ao invés de oferecer a cronologia precisa e clara do divino e amado Mestre. Empenha-se em interpretar eventos, mostrando o coração dos Evangelhos. O fundamento da sua mensagem é: “N’Ele estava a vida, e a vida era a luz dos homens” (Jo1:4). O quarto Evangelho é história, com a grande diferença de que, sob os acontecimentos relatados, especialmente os milagres de Jesus, há significados de valor eterno. Os milagres são assinatura do Deus encarnado. Parece que João vê mais com os olhos do coração; por isso, através do Apóstolo, vivemos intimamente o pensamento do Senhor Jesus. João desconfia da fé que descansa em milagres; a fé deve estar firmemente cimentada no Verbo, Jesus Cristo, o filho de Deus vivo (Jo4:48).
O propósito de João é nitidamente evangelístico: propõe ganhar os homens para Cristo, o Filho de Deus. Para ele, a palavra “crer” significa muito mais do que concordar ou aceitar certa evidência, mas aceitar a verdade e deixar-se guiar por ela. João quer que creiamos que Jesus é o Filho de Deus e lhe entreguemos as nossas vidas. Outra palavra que sobressai neste Evangelho é “vida”. Usada quase 30 vezes, e mais de dez descritas como vida eterna. Os homens sem Cristo estão mortos para Deus. Mas no Verbo Encarnado há vida espiritual; Ele põe a vida de Deus na alma de todo aquele que crê que “Jesus é o Cristo, o Filho de Deus” (Jo3: 15-17).
João fala da vida e especialmente da “vida eterna”. Cristo veio para que tenhamos vida abundante. E que espécie de vida é esta vida eterna e abundante que Cristo oferece segundo João? O homem natural, no seu estado pecaminoso, não pode romper as limitações da sua própria natureza. Mas em Cristo, qualquer homem pode chegar a ser uma nova criatura.
Cristo transforma a vida de um vil pecador numa vida preciosa, abundante e eterna. Através de todo o evangelho de João notamos esta ênfase na vida que Cristo oferece e que só é possível obter por intermédio d’Ele. Nessa lógica, não podemos deixar de recordar o versículo que encerra a própria essência do evangelho: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu único filho para que todo aquele que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo3: 16).
Não há dúvida de que João possuía um vasto conhecimento da vida e feitos de Jesus Cristo, por tal motivo, escolheu cuidadosamente o que escreveu ao apresentar milagres, discursos e diálogos que não se encontram em nenhum outro evangelho. Além disso, a forma tão especial que ele usa para narrar os fatos da Paixão e morte, parece indicar que o fez com um propósito específico em mente: para que creiamos. Crer é ter fé. João realça que o propósito com que ele escreveu foi para que tenhamos fé no projeto salvífico de Jesus. A fé, neste sentido, é a resposta do nosso ser inteiro à chamada de Deus. Fé é um passo que se dá completa, consciente e deliberadamente; é um modo de vida. Diz-se que a fé é algo que Deus nos dá, e é verdade, pois Ele nos deu a possibilidade de crer.