Inspirado nesse versículo bíblico do salmo 40 (39), no dia 03 de julho de 2004, padre Rubens de Almeida Gonçalves, entregava sua vida nas mãos do Senhor através do sacramento da ordem. Momento emocionante para quem já o aguardava há muito tempo, pois ainda adolescente Rubens já sentia em seu coração o chamado de Deus.
No dia 21 de maio de 2010, preparando-se para celebrar a Solenidade de Pentecostes, entrega novamente sua vida nas mãos do Senhor. Agora, de modo definitivo e pleno, não mais através do sacramento da ordem e sim através de um tiro dado por um jovem de 26 anos que, descontente com o fato de ter seu pedido – alugar um salão pertencente à paróquia onde padre Rubens trabalhava – negado, resolveu ceifar-lhe a vida.
Juntamente com outros seminaristas da diocese de Porto Nacional – To, veio para o seminário arquidiocesano de Mariana realizar seus estudos de filosofia e teologia. Tivemos a oportunidade de conviver com o padre Rubens durante sete anos, entre 1997 e 2003. A convivência com ele sempre foi muito agradável. Aos poucos, fomos conhecendo sua história, sua vida, seu desejo em ser padre.
Ainda muito novo manifestou a vontade de ser padre, tornando-se um vocacionado ao ministério presbiteral em sua diocese de Porto Nacional. Durante os anos de estudo em nossa arquidiocese, teve a oportunidade de conhecer mais de perto as comunidades de Bento Rodrigues e Santa Rita Durão, a paróquia São Silvestre, em Viçosa e a paróquia Nossa Senhora de Nazaré, em Cachoeira do Campo. Por onde passou deixou a lembrança de uma pessoa alegre, sincera, piedosa e simples.
Cresceu em uma família fortemente religiosa, tendo em sua mãe adotiva, a senhora Maria Josefina, mais conhecida como “D. Dinha”, exemplo de mulher de fé, discípula fiel do Senhor, comprometida com a comunidade eclesial. D. Dinha também não escondia de ninguém o seu sonho: ter um filho padre. Por ocasião da ordenação do padre Rubens, pudemos compartilhar de sua acolhida, de sua alegria, do seu dinamismo. Não parava um minuto sequer!
Sempre preocupada com os outros. Nunca consigo mesma. Talvez por isso Deus tenha lhe poupado dor tão grande pela qual passa uma mãe quando recebe em seus braços seu filho morto. Seu coração, tão bom e tão forte, não resistiu. E ela, tão unida a seu filho em vida, companheira de todos os momentos, uniu-se a ele em sua páscoa definitiva, acompanho-o em seu encontro com o Senhor. Feliz da d. Dinha, pois ouvirá o Mestre dizer a seu filho: “Servo bom e fiel, entra na casa do teu Pai, em companhia dessa mulher lutadora e comprometida, discípula e servidora.”
“Senhor, para os que crêem em vós, a vida não é tirada, mas transformada. E desfeito nosso corpo mortal, nos é dado, nos céus, um corpo imperecível” (Prefácio dos fiéis defuntos). Assim nossa fé nos ensina a rezar, assim nossa fé mostra que a “morte já não mata, não mata mais a morte. Do chão regado em sangue, o amor brota mais forte.” Neste ano sacerdotal em que a Igreja nos convida a refletir sobre a “Fidelidade de Cristo, fidelidade dos sacerdotes, neste tempo em que somos provados pelas fraquezas e erros de vários prebíteros, a morte do padre Rubens mostra que há também presbíteros comprometidos, vivendo a radicalidade do ministério presbiteral, no anonimato e na simplicidade. Pena que os meios de comunicação não enfatizarão a vida do padre Rubens e, principalmente, o que os seus paroquianos e pessoas de outras denominações religiosas falam a seu respeito. É como diz o dito popular: “Uma árvore que cai faz mais barulho que uma floresta que cresce”.
Padre Rubens não é o único a morrer de modo violento e por um motivo fútil como o apresentado. Como presbítero, encarnado na realidade do povo, apenas viveu essa encarnação de modo mais próximo. Configurou-se a Jesus Cristo e a seu povo, na vida e na morte. Aqui vale mais uma vez o pedido de Dom Helder em sua Invocação a Mariama: “Mariama, que se acabe, mas se acabe mesmo a maldita fabricação de armas. O mundo precisa fabricar é Paz. Basta de injustiça!”
A Solenidade de Pentecostes, celebrada pela Igreja neste final de semana, nos dê lucidez e coragem para seguir vivendo, fiéis a Jesus, comprometidos com os empobrecidos e sofredores, anunciando paz, justiça, amor e perdão.