Muitas vezes nos alarmamos com frequentes notícias na mídia de condutas “perversas” da Igreja, as quais são altamente recriminadas pela sociedade… Chegamos, até mesmo, a concordar com diversos argumentos veiculados nos meios de comunicação, os quais não nos oferecem oportunidade de manifestarmos opinião de forma contrária. E, assim, acabamos concordando com o discurso pronto e arranjado elaborado por fontes que não sabemos quais são. Mas afinal de contas, quem é a Igreja?
Daí, a resposta nos vem bem fácil, que soa como um jargão… Somos todos nós!
Mas será que somos realmente a Igreja de Jesus Cristo?
Essa questão nos convida à reflexão muito oportuna nesse mês vocacional a fim de identificarmos a que fomos chamados a esse mundo e qual o nosso papel na vida da sociedade.
Notadamente, poderia se destacar a vocação matrimonial, na qual Deus convida o homem e a mulher a se unirem e constituírem família, pois a família é o acervo de todas as outras vocações: leiga, religiosa, sacerdotal e missionária. Mais especificamente, à visão da Igreja, a família é a Igreja doméstica.
Portanto, a princípio, precisamos cuidar da fonte das vocações para que as outras vocações sejam asseguradas. E, para iniciarmos a conversa, nos inspiramos na Campanha da Fraternidade do ano de 1994: “A família, como vai?”
Para termos essa resposta, precisamos redescobrir os valores da família nos tempos atuais.
Nesse sentido, é fácil perceber que existem várias formas diferentes de estruturas familiares e que muitas delas são questionadas e reprimidas pelos membros da sociedade. Entretanto, essas estruturas refletem o anseio profundo da pessoa humana de se unir àqueles aos quais se ama, independentemente de que forma é ou em que contexto se encontra o ser que é amado.
No plano de fundo das diversas conotações familiares está incutida a valorização da dignidade humana, nos seus mais diversos sentidos: a promoção da vida, a expressão da liberdade, a construção da personalidade e da individualidade do ser humano. Em resumo, a instituição familiar é a realização plena da dignidade do ser humano, que se forma na sua individualidade e na sua integralidade, e que lhe dá condições de desenvolver todas as suas potencialidades, cujo elemento que integra o ser ao grupo familiar é o amor.
Sendo assim, todos nós, que adviemos de uma família humana, enquanto vocacionados, devemos colaborar com a criação de condições para que essa instituição possa realizar sua finalidade e, numa interpretação extensiva, essas condições são: sociais, políticas, econômicas e culturais.
Desse modo, todos somos chamados a dar testemunho da família: os leigos, os religiosos e as religiosas, os ministros ordenados e os missionários.
Todavia, para os leigos, por excelência – que são a presença do mundo na Igreja e a presença da Igreja no mundo, esse compromisso está mais arraigado e enraizado com a vida da sociedade.
Assim, nos remetendo ao questionamento inicial, por uma decorrência lógica, se a sociedade “anda mal”, é porque os leigos “andam mal” e, se os leigos “andam mal”, a Igreja “anda mal”. E se a Igreja anda mal, é porque a família “anda mal”. E nesse jogo de lógica, podemos inferir que os problemas sociais são problemas eclesiásticos e também os problemas eclesiais decorrem de problemas sociais e, sobretudo, de problemas familiares.
Para isso, a grande missão dos leigos, além de constituir família, é promover a transformação social, uma vez que eles estão inseridos no seio da sociedade como o fermento na massa. São eles que dão movimento à toda essa estrutura e que colaboram na construção do Reino.
Dessa forma, os leigos devem colocar em prática as possibilidades cristãs escondidas no mundo e devem ser valorizar os sinais do Reino imiscuídos no meio da sociedade. Ainda, devem combater às tantas forças que promovem a injustiça e a morte.
Com efeito, o grande chamado/convocação desse mês vocacional é para refletirmos a nossa atuação na Igreja e na sociedade, as quais não podem ser paralelas, ao contrário, devem se confluir, como os rios que se encontram e banham um ao outro.
Talvez o ponto de partida seja a nossa própria casa, o nosso próprio lar e as pessoas com as quais convivemos diuturnamente.
Pode ser, também, que ao longo dessa reflexão cheguemos à conclusão de que precisamos unir mais as nossas forças, enquanto membros da Igreja, para transformarmos a sociedade nos seus mais diversos aspectos, não só na família, mas no trabalho, na política, na economia, na educação, na saúde pública, nos meios de comunicação social, nos órgãos públicos, nos esportes, no serviço liberal, dentre outros. E, por conseguinte, podemos chegar a uma conclusão ainda mais profunda: temos de sair das nossas práticas místicas e litúrgicas alienantes e nos comprometermos mais intensamente com o que estas nos propõem de verdade.
Que o Deus da Vida nos ajude a compreender os seus planos no meio da sociedade e nos dê forças para construirmos juntos o Reino de justiça e paz!