O teólogo padre Angenor Brighenti recorreu à metáfora “luzes e sombras” para apresentar o contexto sócio-cultural e eclesial que marca o cenário das vocações na Igreja. Ele proferiu, nesta sábado, 4, a primeira conferencista do 3º Congresso Vocacional do Brasil, organizado pela CNBB, que começou ontem, 3, em Itaici (SP).
Brighenti explica que o contexto atual é marcado por crises. “Estamos imersos em um tempo de profundas transformações, em escala planetária: crise civilizacional, mudança de época, crise das religiões, em que nos apodera um sentimento de orfandade”, disse.
Segundo o teólogo, a crise é oportunidade de novas possibilidades. “A crise pode significar novo nascimento ou morte; catástrofe ou oportunidade; fim do caminho ou encruzilhada; tempo de calamidades ou tempo pascal, de travessia”, sublinhou.
Para Brighenti, diante das crises, as pessoas podem ter três posturas diferentes: uma visão catastrófica, retrospectiva ou prospectiva. Esta última, de acordo com o teólogo, é “habitada pela virtude de uma esperança ativa. Na fidelidade ao presente e na valorização da experiência do passado, se lança na construção de um futuro crescentemente melhor. A tecitura do risco é a única garantia de futuro”.
O teólogo destacou também o individualismo, que marca as relações humanas, e a economia que gera exclusão. Em sua opinião, o individualismo é resultado da dinâmica do mercado, “que absolutiza a eficiência e a produtividade como valores reguladores de todas as relações humanas”. “Há uma mercantilização das relações pessoais, sociais e religiosas; tudo é medido pela lógica custo-benefício”, acentua Brighenti.
A economia de “rapinagem”, segundo o teólogo, faz surgir a crise ecológica porque “depreda a natureza e coisifica o ser humano”. Diante disso, é preciso crescer na consciência ecológica.
“A preocupação com o cuidado da natureza é um dos fatores da emergência de uma consciência planetária. A consciência de que não estamos na terra, somos terra; o desequilíbrio da biodiversidade do planeta põe em risco a vida humana e seus ecossistemas”.
O desencanto com a política foi outro aspecto da realidade lembrado por Brighenti. “Constata-se a falência da democracia representativa: os partidos políticos são máquinas eleitorais, cujo objetivo é ganhar a eleição”, disse.
Para o teólogo, contudo, há, na sociedade atual, uma sede de Deus e uma volta ao religioso, mas uma religião “eclética” com outra visão de Deus. “A irrupção de uma religiosidade eclética e difusa, a volta de um neopaganismo imanentista, que confunde salvação com prosperidade material, saúde física e afetiva. É a religião a la carte: Deus como objeto de desejos pessoais, solo fértil dos mercadores da boa fé, do mercado do religioso”, explica Brighenti.
Dentre os fatores que ajudam a banalizar a religião, o teólogo cita a mídia que “reduz a religião à esfera privada, como a um espetáculo para entreter o público”. Neste sentido, “também a religião passa a ser consumista, centrada no indivíduo e em sua degustação do sagrado”.
Fonte: CNBB