“É próprio de Deus usar de misericórdia e, nisto, se manifesta de modo especial a sua onipotência”. Esta experiência acerca de Deus de São Tomás de Aquino é vital para o nosso cotidiano.
Criados à imagem e semelhança do Amor, temos plasmado no nosso coração, atitudes e comportamentos próprios de Deus, tão bem expressos por Paulo (1Cor 13, 4-7): “O amor tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”. Vivendo atributos que Paulo elenca, aproximamos nosso coração do coração de Deus e aí encontramos paz e saboreamos da ternura de Deus. Eis o verdadeiro tesouro da humanidade: o Amor está sempre de braços abertos para nos acolher.
Uma chave de leitura para aprofundarmos a experiência da misericórdia de Deus é a parábola do Pai Misericordioso, na qual os filhos não experimentam profundamente o amor do pai.
Enquanto o mais novo sai de casa, o mais velho, apesar de ficar, fez-se de empregado: “Há tantos anos te sirvo”. Não experimenta ser filho amado, com o qual o pai compartilhou tudo: “Tudo o que é meu é seu”. Não podemos duvidar que este tudo que o pai compartilha com o filho mais velho é o próprio Jesus que o Pai Misericordioso compartilha conosco, que tanto somos o filho mais novo, quanto o mais velho.
Agir com misericórdia é próprio de quem não tem nada a receber, pois o outro não tem como pagar. Se tivesse como pagar a atitude não seria de misericórdia e sim de um simples escambo, uma troca de favores, anomalia que, infelizmente, infesta as relações humanas, como se vê em tantos casos de corrupção ou tráfico de influências.
Em sua bula de proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, o Papa Francisco convida a abandonarmos as atitudes diárias de corrupção (que vão desde um simples furar uma fila, não devolver o excedente de um troco que veio errado), até os casos expostos nos meios de comunicação. Nas palavras de Francisco, “a corrupção impede de olhar para o futuro com esperança, porque, com a sua prepotência e avidez, destrói os projetos dos fracos e esmaga os mais pobres”.
Neste Ano da Misericórdia, o pontífice nos incentiva viver, com amor, as obras de misericórdia corporal (dar de comer aos famintos e de beber aos sedentos, vestir os nus, acolher os peregrinos, dar assistência aos enfermos, visitar os presos, enterrar os mortos) e espiritual (aconselhar os indecisos, ensinar os ignorantes, admoestar os pecadores, consolar os aflitos, perdoar as ofensas, suportar com paciência as pessoas molestas, rezar a Deus pelos vivos e defuntos).
Tais obras serão mais bem vividas, se tivermos no nosso coração o mesmo ímpeto que moveu o pai para ir correndo ao encontro do filho: compaixão. Eis aí a ternura e carinho com os quais somos acolhidos pelo Pai. Ser recebido por Deus é um evento que deixa uma doce marca na nossa existência. “Só é misericordioso quem já experimentou da misericórdia”.
É este o convite: reconhecer que somos pecadores e receber, de graça, a misericórdia de Deus, pois não temos com o que pagar.